Benfica, o domínio da fé
A frase de Júlio César de que os Lusitanos não se governam nem se deixam governar é hoje bem aplicada ao Benfica
A viver uma crise de resultados desportivos, sobretudo a nível internacional, o clube da Luz preferiu não apostar na mudança nas eleições para os seus órgãos sociais.
Noronha Lopes não foi um candidato galvanizante mas constituía a novidade. Já Rui Costa era o rosto da possível continuidade da crise, como se veio a confirmar no empate de domingo passado na Luz no jogo com o Casa Pia.
Não há no país, clube como o Benfica que represente tão bem as características nacionais, para o bem e para o mal.
No bem, o forte sentimento de pertença a uma comunidade.
No mal, o imobilismo, o mesmo que levou Portugal a 50 anos de ditadura e que o leva hoje a 50 anos do mesmo regime partidário PS-PSD.
Também o imobilismo de quase metade dos sócios que não foram às urnas, em busca de novas soluções para o clube (eram cerca de 160 mil sócios com capacidade para votar e fizeram-no 90 mil).
A lista de Noronha Lopes tinha também um aliciante. Era constituída por um escol de sócios com provas dadas nas suas profissões, muitos ligados à gestão (talvez apenas representando em excesso algumas elites e não o grosso de grandes profissionais).
Também no país, o desafio de serem os cidadãos com exemplos reconhecidos no exercício das suas funções, seja no trabalho, seja na gestão de comunidades, autárquicas, empresariais, escolares, sociais e culturais, a desempenharem cargos executivos no governo nacional, está por desenvolver.
No país, este espaço de cidadania está hoje ocupado por extremistas sem competências com ideias retrógradas, acabando o sistema partidário, caduco, a ser uma barreira de segurança contra eles. Não é solução.
No Benfica, não se chega a tanto. Não existe no clube um fenómeno como foi o de Bruno Carvalho no Sporting mas o sistema caduco está lá.
Os reflexos estão à vista. No país uma montanha de problemas em todas as áreas, saúde, habitação, justiça, educação, transportes, sistema prisional, etc.
No Benfica, no que respeita ao futebol, gastos excessivos, más contratações de jogadores por preços que não justificam, falta de capacidade para apostar em futebolistas que se revelem depois acima da média, falhas na criação de valores na formação, contratação de estrelas em final de idade para jogar ou de um treinador como José Mourinho, uma enorme estrela decadente de resultados na última década, em quem se aposta quase divinamente e que acaba por tornar o Benfica refém desta equação. Podemos estar no domínio da fé e não da racionalidade da gestão desportiva.
