O primeiro bombardeamento aéreo em Portugal

Em 1919, em Aveiro, teve lugar aquele que foi o primeiro bombardeamento aéreo em Portugal, realizado contra as forças da chamada “Monarquia do Norte”, liderada por Paiva Couceiro, que tentava depor a República, implantada em 1910.
Além desta particularidade, num ataque com hidroaviões, quem comandou a operação foi nada mais nada menos do que Sacadura Cabral, o aviador que três anos depois faria a primeira travessia aérea do Atlântico Sul.
É a escritora Luísa Costa Gomes que o recorda, no seu livro Sacadura Cabral, o Aviador na Marinha (1881-1915), editado pela Dom Quixote.
“Foram usados hidroaviões e a operação foi dirigida por Sacadura Cabral, que nela participou em Aveiro, tendo sido tarde e contrariadamente louvado em 1919, pela prudência e cuidado com que evitou atingir pessoas e habitações. O louvor diz: ‘pelo decidido empenho que demonstrou na pronta reparação dos hidroaviões que cooperaram com as forças em operações Aveiro contra os rebeldes monárquicos, provando os seus grandes recursos profissionais e patenteando a maior dedicação e valor no desempenho das missões de que foi encarregado, em reconhecimentos e lançamento de bombas, no propósito difícil de estas produzirem apenas efeito moral durante as mesmas operações, o que efetivamente realizou’ (in Pinheiro Correia). Hugo Baptista Cabral em A Monarquia do Norte (Revista Mais Alto) considera que para esta recusa de Sacadura terão concorrido dois factores: ‘O primeiro estava relacionado com a conotação que os bombardeamentos aéreos sobre pessoas tinham na época. Talvez mais do que na actualidade, estes eram considerados actos hediondos, pelo que, para um patriota como Sacadura Cabral, seria impensável bombardear portugueses fosse qual fosse a sua orientação política. O segundo factor estaria relacionado com a aversão que Sacadura Cabral teria às lutas políticas da época.’ Cartas a Coutinho e intervenções públicas suas, sobretudo depois da Travessia do Atlântico Sul, mostram que «considerava estes conflitos internos a raiz de todos os problemas do país». Sacadura proclamou-se apolítico, no que queria talvez significar apartidário, para mostrar a sua independência em relação à intriga parlamentar e governativa cuja «vileza» o ofendia de forma quase pessoal”.