Quando em 1970 alguém alertou Marcelo Caetano para os “fabulosos” computadores e a inteligência artificial

A chegada de Marcelo Caetano ao poder, em 1968, foi uma enorme esperança para muitos jovens liberais que despontavam na carreira política, como Sá Carneiro, João Salgueiro, Rogério Martins, Xavier Pintado, alguns deles chamados ao poder por Marcelo Caetano como secretários de Estados em pastas económicas.
Tinham em mente um país democrático, com uma economia liberal aberta, dinâmica e inovadora, integrada na CEE, o que passava também pela resolução da guerra em África, sem saída no campo militar e que exigia um desfecho político.
Marcelo Caetano não percebeu que a liberalização económica, que implicava também o fim dos monopólios, exigia o fim da guerra em África.
O então presidente do Conselho ficou bloqueado pela questão ultramarina, as colónias africanas de que não queria abdicar. Secundarizou a aposta nesta democracia liberal, com enfoque no económico, mas que implicaria, desde logo, realizar eleições livres (como as que se realizaram em 1975), aprovar uma nova Constituição, desmantelar as estruturas de poder do salazarismo, desde logo com a extinção da PIDE, e iniciar conversações com os movimentos de libertação africanos, com vista à independência das colónias.
Um dos homens mais dinâmicos mas menos conhecido, que apostou nesta mudança económica foi Rogério Martins, secretário de Estado da Indústria de Marcello Caetano, entre 1969 e 1972.
O Objectivo recorda o extracto de uma carta que Rogério Martins escreveu a Marcelo Caetano, publicada no livro do jornalista Pedro Jorge Castro “O Ataque aos Milionários” (Editora A Esfera dos Livros, 2014), alertando-o para a importância dos computadores e da inteligência artificial que despontava nos EUA. A ideia de Rogério Martins era sensibilizar Marcelo Caetano para aproveitar o auxilio tecnológico dos EUA e investir dez milhões em inteligência aplicada, como diz Pedro Jorge Castro : “O ensino por computadores não é nada fantasia, nem o que eu dele digo o é; vi alguma coisa disso na América, a nível universitário e médio, e sei de experiências a nível primário, e é mesmo, para usar um brasileirismo, fabuloso.”