Quando Marcelo quis “pôr um ponto final na carreira política de Álvaro Cunhal”
Marcelo Rebelo de Sousa faz hoje uma homenagem ao ex-Presidente da República, Jorge Sampaio, num artigo no Jornal de Notícias, cujo título é: “Os nossos muros ou a lembrança de Jorge Sampaio”
Quando na campanha para a eleição do presidente da Câmara de Lisboa os dois se enfrentaram em dezembro de 1989, Marcelo salientou a importância decisiva da queda do muro de Berlim em 9 de novembro de 1989 e Sampaio respondeu-lhe que “mais importantes do que o muro de Berlim são os muros que existem na nossa terra”.
Marcelo recordou estas palavras para acentuar, nos tempos de hoje, a clivagem política e social na sociedade portuguesa que desune os portugueses em várias matérias, no quadro de um sociedade altamente bipolarizada e com fortes económicas e sociais.
São palavas bonitas mas convém também recordar que as palavras de Sampaio, que até podem ser interpretadas como desvalorizando a queda do comunismo, tiveram um contexto, relacionado com ataques de Marcelo a… Sampaio, como se pode ler no arquivo do jornal Diário de Lisboa da época, promovido pela Fundação Mário Soares.
A candidatura de Sampaio a Lisboa, que uniu PS e PCP, visando por fim ao domínio da direita na capital, foi duramente atacada pelo PSD e pelo próprio Marcelo, por assentar numa coligação contra os ventos da História.
Nos últimos dias de campanha, Marcelo chegou a dizer que queria “pôr um ponto final na carreira política de Álvaro Cunhal” e que ao longo da campanha este “conseguiu para os comunistas uma posição paritária com os socialistas e dominou Jorge Sampaio». Este respondeu-lhe: “perdeu a serenidade”
O PSD também fez um ataque cerrado a Sampaio, acusando este de se coligar com um PCP “arcaico, ortodoxo e estalinista”. Na disputa pela Câmara Municipal de Loures, com o candidato laranja Pacheco Pereira a querer quebrar o domínio comunista na autarquia até o então primeiro-ministro do PSD, Cavaco Silva, entrou na liça para dizer que era preciso “rachar o muro” na autarquia.
