Quando Fernando Pessoa defendeu a ditadura militar de 1926

Fernando Pessoa defendeu o regime militar iniciado com a revolução do 28 de Maio de 1926 no ensaio “O Interregno. Defesa e Justificação da Ditadura Militar em Portugal”, publicado em 1928 e inserido no livro Da República, editado pela Ática em 1979, que reúne um conjunto de ensaios do poeta.
Pessoa considerou não haver outro caminho “para a salvação e renascimento do País senão a Ditadura Militar, seja esta ou seja outra.”
Deu, para tanto, três justificações para defender a sua posição.
A primeira justificação assenta nesta ideia:
“Estamos divididos porque não temos uma ideia portuguesa, um ideal nacional, um conceito missional de nós mesmos (…) Quando um País está assim organicamente dividido […] está criado um estado de guerra civil. Ora num estado de guerra, civil ou outra, é a Força Armada que assume a expressão do Poder. Assume-a, ordinariamente, em subordinação a um poder político constituído, a um regímen. No nosso caso, porém, precisamente o que nos falta é um regímen. Tem, pois, a Força Armada que ser ela mesma o Regímen; tem que assumir por si só todo o Poder”.
A segunda justificação da Ditadura Militar reside no seguinte:
“Além de não ter vida institucional legítima, não pode Portugal também, ter vida constitucional alguma (…) Mas onde, como em Portugal presente não há regímen, nem possibilidade imediata de o haver, a única solução é, eliminando o constitucionalismo, o não substituir por coisa nenhuma, parecida ou diferente de. Em outras palavras, há que criar, que estabelecer como coisa definitiva o Estado de Transição.
Os governantes naturalmente indicados por um Estado de Transicão são, pois, aqueles cuja função social seja particularmente a manutencão da ordem. Se uma nação fosse uma aldeia, bastaria a polícia: como é uma nação, tem que ser a Força Armada inteira”.
Por último, Fernando Pessoa apresenta a terceira justificação:
“Toda a situação governante em Portugal, depois da queda da monarquia absoluta — é substancialmente uma fraude.”
O poeta e ensaísta conclui de seguida:
“…a solução está em apelar clara e definitivamente para a força, em apelar para aquela força que possa ser consentânea com a tradicão e a consecução da vida social. Temos que apelar para uma força que possua um carácter social, tradicional, e que por isso não seja ocasional e desintegrante.
Há só uma força com esse carácter: é a Força Armada.”