Quando os republicanos defenderam a salvação do país por um Almirante

Não é a primeira vez que um almirante como Gouveia e Melo é guindado a salvador do País, com um grupo de apoiantes fiéis e em primeiro lugar nas sondagens para as eleições presidenciais de 2026.
Há quase cem anos, o Almirante Gago Coutinho teve o mesmo papel.
Muitos republicanos moderados do grupo da Seara Nova saudaram a revolução militar do 28 de Maio de 1926 e, de forma, a evitarem a restauração monárquica que temiam, defenderam uma união de esforços com os militares e um “governo de competências”, liderado pelo Almirante Gago Coutinho.
Num artigo publicado na revista Seara Nova em 23 de Junho de 1926 intitulado “A República e o Exército”, os seareiros escrevem:
“Há, dentro da revolta, bastantes oficiais que são sinceramente republicanos e desejam o prestígio da Força Armada.
Pode haver entre eles e nós uma discordância de ideias sobre os processos de realizar essa obra de dignificação da Pátria e a reabilitação da República – usando a linguagem dos seus manifestos. […]
A situação actual, sinceramente julgamos, vai arrastar-nos se não para a Monarquia, para um período de retaliação e de opressão. Cremo-lo, como cremos no republicanismo de muitos oficiais envolvidos no movimento. […]
A solução que as circunstâncias exigem é única: um autêntico Governo nacional de competências, presidido por uma figura de grande prestígio que possa contar com o apoio de todos os portugueses. […] Esse presidente do Governo poderia ser o almirante Gago Coutinho. […]
A Força Armada, confiando nele e nos homens que entender escolher, reingressará na ordem, acabando com atitudes indisciplina- das que tanto prejudicam a sua vida interna”.